Audiovisual nordestino muito além do Oscar 🎬
Um bate-papo especial com os trabalhadores por trás do filme Sideral
E aí, tudo massa?
Se você é usuário de qualquer rede social, é bem provável que já tenha se deparado com algum conteúdo sobre o Oscar nesta semana.
A premiação, considerada a maior do cinema norte-americano, sempre dá o que falar, seja pelas indicações amadas por uns e odiadas por outros, pela falta de representatividade, que infelizmente ainda é a cara do prêmio, ou até mesmo pelos looks do tapete vermelho - vamo combinar, essa é uma das melhores partes.
Aliás, tu sabia que o Brasil chegou bem perto de ter um filme indicado ao Oscar desse ano? E que o filme era uma produção do Rio Grande do Norte? Pois é. O curta-metragem potiguar "Sideral" chegou à etapa de pré-finalistas da premiação.
O caminho da capital Natal até o Oscar não foi simples, e expõe o quanto ainda precisamos comer muito feijão com arroz para consolidar uma política pública de peso e ter um setor audiovisual descentralizado no Brasil.
Isso quem está dizendo não é a gente: conversamos com o diretor de Sideral, Carlos Segundo, e com o ator Matteus Cardoso, que talvez tu conheça como Joel Leiteiro, da novela da Globo Mar do Sertão, que também atuou em Sideral. A gente conta como foi esse papo a seguir.
Antes, queremos só dar uma cutucada na emissora global que se vangloriou de ter finalmente metade do elenco nordestino em uma novela com temática do Nordeste - o básico, né?! -, mas ainda tem que comer muito cuscuz também pra vencer a história única da região sobre sertão, e ter nordestinos no roteiro, na direção e em outras novelas…
E tem edição especial do CajuZap com eles também, viu? Se você não se inscreveu ainda na nossa mini curadoria em áudio, manda um “oi” para: (11) 98242.8751.
Sirva-se!
Para quem nunca ouviu falar de Sideral, a gente fala agora: o curta se passa durante o lançamento do primeiro foguete tripulado no Brasil, da Base Aérea de Natal, e narra a história de uma família que foi afetada de forma inusitada por esse evento.
Mas você já parou pra pensar em por que é tão difícil descobrir e ter acesso ao que está sendo produzido pelo audiovisual Nordestino? O ator Matteus Cardoso acredita que houve uma transformação na indústria do cinema e das cidades brasileiras que contribuiu para isso:
A indústria e a distribuição de cinema no Brasil são limitadas, são coisas pequenas. Sempre foi muito difícil historicamente a gente manter uma constância. Lá nos anos 70, a gente tinha muitos cinemas de rua espalhados pelo Brasil, e muitas empresas distribuindo para o país inteiro. O cinema era interiorizado, as cidades tinham cinema de rua. Hoje a gente não tem mais. Depois que o cinema se “shoppingzou” e, especialmente, após o golpe de Dilma, Temer veio e já começou a destruir as políticas públicas para cultura, Bolsonaro terminou.O que a gente tem hoje no Brasil é uma indústria completamente focada em shoppings centers, distribuindo filmes norte-americanos e os filmes das nossas grandes produtoras e distribuidoras. Após o assassinato da Ancine por Bolsonaro, ficou muito difícil a gente fomentar e produzir.
A fala de Matteus ajuda a entender inclusive porque Sideral fez tanto sucesso lá fora, estreando no Festival de Cannes, na França, antes mesmo de ganhar projeção no Brasil, como o diretor Carlos Segundo relatou:
Historicamente, três estados despontam no Nordeste, que são Bahia, Pernambuco e Ceará, porque foram os que tiveram mais investimentos públicos. E existe um movimento crescente nos outros estados. Recentemente, agora em Berlim, teve um curta que foi produzido em Alagoas e o estado já está produzindo algumas coisas para os próximos anos. A Paraíba também, recentemente, produziu dois ou três longas. Esse é um território sempre muito delicado. Essa relação entre o Sudeste e o Nordeste e, no caso, ainda mais o Rio Grande do Norte que não tem uma expressividade no cenário nacional na produção de cinema. De certa forma, Sideral dá um susto em todo mundo, porque vem de um lugar, digamos, improvável, e acaba que a gente tem que fazer esse percurso internacional para consolidar ou para ter uma chancela dentro do nosso próprio país.
Os editais de fomento ao audiovisual, no entanto, ainda são insuficientes para a capacidade criativa que há nos estados da região, e os trabalhadores do setor buscam cada vez mais oportunidades para continuar produzindo, como disse Carlos:
Tem que continuar a pressão para que o Poder Público entenda a importância da produção audiovisual para o estado, não só no sentido de alimentar um setor, toda uma cadeia produtiva, como também no sentido simbólico: de construir um imaginário em torno do que pode ser apresentado do estado. Acho que Sideral acaba sendo esse filme que projeta o estado, e que a gente precisa continuar. É importante continuar produzindo, continuar tendo investimento. Essa é a discussão do momento e, com essa nova configuração federal de presidência, o fim desses cinco, seis anos de desespero, talvez contribuam ainda mais para que a gente possa ampliar a produção regional descentralizada.
Se você acompanha a Cajueira, já sabe que indicamos a reportagem da Mídia Caeté sobre o filme alagoano citado por Carlos Segundo, "Infantaria", em nossa última edição.
Outra edição que vale a pena relembrar é a da entrevista com a jornalista e pesquisadora Fabiana Moraes, que fala sobre a importância da produção criativa na construção de novas narrativas - tudo a ver com nossa conversa de hoje.
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