🎤 Cajueira entrevista a lapa de jornalista Fabiana Moraes
Pernambucana fala sobre representações nordestinas na mídia e subjetividade no jornalismo
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De vez em quando, a gente abre espaços para entrevistas por aqui. Dedicamos várias das nossas 39 edições para ouvir pesquisadoras/es, jornalistas e comunicadoras/es de vários projetos independentes nos estados do Nordeste.
Dessa vez, fomos conversar com uma das maiores jornalistas do Brasil. Fabiana Moraes é pernambucana, escritora e professora da Universidade Federal de Pernambuco. As reflexões dela sobre representações do Nordeste na mídia e subjetividade no jornalismo são grandes fontes de inspiração para os debates que propomos na Cajueira.
Em uma conversa ligeira, Fabiana falou sobre o jornalismo como construtor de realidades, não a realidade. Para ela, só é possível mudar representações do Nordeste na mídia, e propor novas formas de ver, “a partir do momento que a gente faz uma crítica à nossa própria história, à nossa própria forma de representação”. Pense!
E, olha, se tu não mudar os veículos que costuma ler sempre, fica difícil enxergar outras realidades. No que depende da gente aqui, não faltam opções pra se informar de maneira mais diversa e plural.
Veja abaixo a íntegra desse papo importante com Fabi e confira em seguida links da semana que tu não pode deixar de ler. Você também pode ouvir um resumo dessa entrevista em formato de áudio no CajuZap- nosso novo produto, já conheces? Para receber, manda um ‘oi’ pra gente no (11)98242.8751. Jaja a gente envia…
Um cheiro! Sirva-se!
Fabiana Moraes é jornalista, escritora e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Você defende o jornalismo como construtor de realidades, não a realidade. Quais caminhos aponta para criar novas narrativas sobre o Nordeste, que fujam do senso comum?
Entendo que o jornalismo faz parte do sistema midiático assim como o cinema ou a publicidade. Faz parte de um sistema de produção de representação social. A partir do momento em que o que a gente fala – ou o que a gente escreve – é escolhido a partir de determinada perspectiva, do lugar e da forma como você está olhando, da tua história de vida, tem vários fatores para esses recortes, que vão formar justamente essas representações.
Para a gente conseguir produzir novas narrativas, novas perspectivas sobre uma região - ou para falar sobre indígenas, ou sobre pessoas negras, que são grupos de pessoas sub-representadas e mal representadas -, o primeiro passo é olhar o que se diz historicamente. A gente só pode dar um primeiro passo para tentar instaurar e propor novas formas de ver, a partir do momento que a gente faz uma crítica à nossa própria história, à nossa própria forma de representação. Só assim a gente consegue de fato iluminar outras outras perspectivas, tirar debaixo do véu novas formas de ver. Precisamos olhar quais representações foram realizadas, para que a partir de uma crítica a respeito desse caminho a gente consiga instaurar novas possibilidades.
Pensando no contexto das eleições deste ano, como a gente pode combater uma cobertura que ainda se concentra em uma perspectiva sudestina? Não só como jornalistas, mas enquanto sociedade também.
Eu me pergunto sinceramente se a cobertura se concentra em uma perspectiva sudestina ou se, na verdade, nós como público também nos concentramos na leitura dessa imprensa para nos informar. É preciso fazer essa crítica de uma maneira mais ampla. Eu não sei se a palavra “combater” é a melhor. Eu acho que é preciso fazer um movimento que não é necessariamente do combate, mas da produção, da própria realização dessas coberturas. A postura reagente dá trabalho, tira muito nossa força – a gente precisa ir produzindo. E, produzindo criativamente, a gente acaba criando essas outras narrativas.
Um exemplo de uma produção boa, e que é financiada pelo público, é o podcast ‘As Cunhãs’. Sai toda terça-feira em diversas plataformas e elas realizaram uma cobertura de eleições focada em todos os estados do Nordeste. Isso é muito bom, porque trouxe a especificidade, por exemplo, da política paraibana no nível nacional. A grande imprensa também tem que prestar atenção nesses exemplos. Tem que colocar a responsabilidade na imprensa do Sudeste de realizar uma cobertura que consiga falar mais a respeito das especificidades das eleições no país, que é heterogêneo. Inclusive, é extremamente interessante o estabelecimento de parcerias que envolvam a produção jornalística pensada a partir dos veículos alternativos.
No teu novo livro, que será lançado neste ano, você argumenta sobre a importância do ativismo e do engajamento na construção da pauta. Pode explicar melhor essa ideia?
O livro fala sobre a subjetividade jornalística a partir de algumas características que vão explicar o que eu chamo de jornalismo de subjetividade. É um jornalismo que se engaja e que se posiciona. E isso tem relação com a questão do ativismo. E é um jornalismo que pensa a partir de perspectivas da interseccionalidade, que é reflexivo e prático, que questiona valores, notícias e não os entende como dogma, que privilegia o fazer pensar e o pensar fazer. É também o jornalismo que entende que essa área específica noticiosa é lugar do criativo e da criação.
Para qualificar o jornalismo de subjetividade precisamos entender que a pauta é um instrumento de construção de novos posicionamentos e de novas representações. É uma forma da gente recortar algo e escolher como falar e o que falar sobre algo. Nesse sentido, a pauta vai atuar aí como uma arma, como uma forma de desarticular formas violentas de representação, de subjugação, e de sujeitamento de pessoas e de grupos. É nesse sentido que o jornalismo se engaja e que ele pode ser ativista, mesmo que isso não seja especificamente colocado.
O ativismo também pode ser percebido em veículos da grande imprensa. Quem faz um estudo muito interessante sobre isso é Márcia Veiga, na pesquisa de pós-doutorado. Ela analisa como jornalistas se colocam dentro da grande imprensa e acabam articulando um posicionamento e um ativismo. Nem sempre isso está muito posto, nem muito observável, mas está ali.
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Para ler, refletir e ouvir
📰 Deslizamentos de barreiras e alagamentos já deixaram 129 mortos e milhares de pessoas desalojadas em Pernambuco. Os desastres nos períodos chuvosos acontecem quase todos os anos e pessoas pobres são sempre as mais prejudicadas. Somente as chuvas não explicam as mortes nos morros, escreveu a Marco Zero Conteúdo. O coletivo produziu uma série de reportagens que ajudam a entender vários aspectos da catástrofe. Recomendamos a leitura.
✍️ Tragédias nos morros do Recife, na Vila Cruzeiro do Rio de Janeiro, e a morte de Genivaldo, que foi asfixiado numa câmara de gás improvisada pela Polícia Rodoviária Federal, em Sergipe; tudo isso têm um alvo em comum: o povo preto. Um texto do ativista e cineasta Igor Travassos, publicado no portal Alma Preta jornalismo, afirma que a grande barbárie das chuvas no Recife é o racismo.
🎧 O podcast piauiense Malamanhadas acaba de lançar uma série sobre justiça reprodutiva. Todos os episódios contam com audiodescrição e tradução em libras.
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