Pau de arara e cabeça chata. O que há por trás dos termos usados por Bolsonaro?
Selecionamos links que explicam fluxos migratórios e te ajudam a refletir sobre preconceitos
Oi, tudo bem contigo?
‘Pau de arara’, ‘cabeça chata’, ‘baiano’, ‘paraíba’, ‘mulher macho’ são algumas das alcunhas das nordestinas e nordestinos no Sul e Sudeste do país. São expressões depreciativas que nasceram com os grandes fluxos migratórios, intensificados na década de 30, quando milhares deixaram suas terras em busca de melhores condições de vida nas regiões mais ricas do país, e mais favorecidas pelos recursos públicos.
Nordestinas e nordestinos foram - e continuam sendo - subalternizados e explorados nesses lugares. Imigrantes da nossa região são tidos como seres inferiores, incultos, preguiçosos, incapazes de assumir trabalhos especializados.
O preconceito contra as populações dos nossos estados está enraizado na sociedade, assim como o racismo e a xenofobia. Imigrantes negros e de países pobres também sofrem, como vemos em atos brutais, como o assassinato do imigrante congolês Moïse e declarações ofensivas, que ganham espaço na mídia.
Quando o presidente Jair Bolsonaro chama nordestinos de pau de arara e de cabeça chata, ele não está simplesmente fazendo piada ou cometendo uma gafe. Também não está agindo de forma controversa. Ele está legitimando o preconceito e a xenofobia no país. Ataques contra nordestinas e nordestinos também têm origem no preconceito de classe e racial, lembrando que a maior população negra do Brasil está no Nordeste.
Nesta edição #32 trazemos alguns links que ajudam a entender um pouco mais sobre a heterogeneidade dos fluxos migratórios nordestinos, do passado e do presente. Também separamos dicas para você conhecer a história de Padre Cícero e não dar atestado de ignorância, como Bolsonaro, além de leituras para refletir o racismo e outras violências.
Já viu que combater estereótipos nordestinos na mídia é importante, né? Nos ajude nessa participando da campanha Plantio e/ou fazendo um pix para cajueira.ne@gmail.com 😉
Um cheiro e sirva-se!
Pau de arara
A imagem do nordestino deixando a região em um pau de arara para fugir da fome é uma fotografia desbotada. O podcast Prosa Nordestina tem um episódio em que discute a migração no Nordeste fora do clichê, trazendo o relato e a experiência de jovens que, buscando sua formação no ensino superior, saem de suas cidades para estudar.
Campos de concentração no Ceará
Os campos de concentração do Ceará foram implementados nas secas de 1915 e posteriormente na de 1932. O site Meus Sertões publicou um artigo com fontes históricas, dados e mapas que ajudam a conhecer essa mancha na história do país.
De onde é o Padre Cícero?
Para quem, assim como Bolsonaro, não conhece a origem do Padre Cícero ou ainda pensa que ele está vivo, como a participante do Big Brother Jade Picon, te indicamos ouvir a série especial do Budejo Podcast. Eles contam a história do sacerdote que transformou Juazeiro do Norte, no Sertão cearense, na principal cidade do interior do estado e centro de devoção popular não canônica da América Latina.
Ainda dá para entender mais sobre a capital da fé, que ostenta um dos maiores fluxos de romeiros do mundo, ouvindo o episódio sobre a Beata Maria de Araújo, que protagonizou o famoso milagre de Juazeiro.
Os cenários áridos e as cores quentes são representações clichês das paisagens sertanejas. Mas não para o fotógrafo Luiz Daniel. Inspirado por filmes de terror, fantasia e ficção, o jovem de 19 anos transforma elementos comuns da cidade em cenários surrealistas.
Racismo
A violência policial tem cor e ela é a mesma de jovens como Moïse Mugenyi Kabagambe, assassinado no Rio de Janeiro após cobrar seu salário. Em um levantamento feito pela Marco Zero Conteúdo, 60% dos jovens entrevistados disseram que a polícia já usou termos racistas em suas abordagens. Considerando todas as formas de agressão, é como se 8 a cada 10 jovens já tivessem sido vítimas de vocabulários racistas, do racismo estrutural e da falta de preparo das autoridades policiais nas revistas cotidianas.
Violência de gênero na política
O portal Eu Femea lançou recentemente o Eufemeacast. O episódio mais recente é uma entrevista com a mais jovem política eleita de Alagoas, a vereadora Teca Neuma. Na conversa, ela conta que já lhe falaram que precisava ajeitar o cabelo para ocupar um assento na Casa Legislativa.
Jornalista assassinado no exercício da profissão
O jornalista Givanildo Oliveira, do site independente Pirambu News, foi assassinado na segunda-feira (7). Segundo o Blog Escrivaninha, a página vinha denunciando a violência em Pirambu, um bairro periférico em Fortaleza. Givanildo teria sido morto após publicar reportagem sobre a prisão de membros de uma facção. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) emitiu nota lamentando a morte e cobrando a apuração do crime.
A entidade considera “inadmissível que um jornalista seja morto ao exercer sua profissão” e se diz preocupada com o grave efeito de tais ataques à democracia, como a suspensão, por parte de um site regional, do noticiário policial, medida adotada pelo Portal Fortaleza para preservar a integridade física de sua equipe.”
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