Lockdown no Nordeste e os desmandos dos políticos
Edição nº 08 | No meio do caos, o jornalismo independente e local é vacina contra a desinformação
Oi, tudo bem por aí, na medida do possível ? Sua cidade está em bloqueio total, o chamado lockdown? Como tu estais se informando sobre a situação?
Enquanto o Brasil vive um novo pico de casos de Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro quer evitar lockdown no Nordeste porque só pensa na sua reeleição. Na mesma toada, o novo ministro da Saúde – quarto na pandemia – o paraibano Marcelo Queiroga já disse que bloqueio total não pode ser política de governo. E genocídio pode? Eita, esquecemos que essa palavra foi censurada. É dureza.
Pois mesmo contra a vontade do presidente, pelo menos os governos do Ceará, de Pernambuco e da Bahia já decretaram medidas mais severas de isolamento na região. O cientista Miguel Nicolelis, que deixou o Comitê Científico do Consórcio Nordeste no mês passado porque não estava sendo ouvido, alertou que os bloqueios precisam acontecer em todos os estados brasileiros para desafogar o sistema hospitalar, que já colapsou.
Agora, imagina se a gente não tivesse o jornalismo, feito no território, para nos ajudar a entender essa confusão todinha? Seria como ficar cego em tiroteio!
Na pior crise de saúde dos nossos tempos, o jornalismo, sobretudo o independente (que focamos aqui), é fundamental para que a população não fique refém da desinformação nos grupos de Whatsapp. Nesta edição, vamos então mais uma vez aos assuntos inevitáveis – lockdown, pandemia e governanças (ou desgovernos).
Sirva-se! E, se puder, fique em casa aguardando a vacina.
Equipe Cajueira
Política e pandemia. Consegue distinguir?
O negacionismo do presidente Jair Bolsonaro tem seus representantes estaduais. No Ceará, aliados dele tensionam o debate criticando o lockdown decretado pelo governo petista. Eles ainda se opõem à vacinação e defendem um tratamento precoce que não existe. A professora da Universidade Federal do Ceará deu nome aos bois nesse artigo, publicado na plataforma multimídia Bemdito.
Ainda tem quem goste…
...do presidente e defenda suas ideias. Em Maceió (AL), manifestações pró-Bolsonaro e contra o lockdown terminaram em arenga entre o prefeito da cidade, João Henrique Caldas (PSB) e o vereador Leonardo Dias (PSD), que teria patrocinado o ato. O prefeito criticou as manifestações que atrapalharam a vacinação em um posto de saúde. Já pensasse?! O Portal Acta explicou a confusão.
O fato é que, na absoluta falta de comando do governo federal, governos estaduais e prefeituras estão lidando com a crise como acham que devem. Acontece que regras de isolamento diferentes em estados vizinhos, como Paraíba e Pernambuco, por exemplo, não fazem muito sentido. A Moderna Parahyba e o Saiba Mais, do Rio Grande do Norte, levantam o debate.
Agora também não adianta fechar tudo sem garantir auxílio emergencial para a população, nem mecanismos que resguardem empregos e auxiliem pequenos negócios. Por enquanto, promessas não faltam. No Piauí, o governo prometeu R$ 1 mil aos trabalhadores de bares e restaurantes para reduzir prejuízos do toque de recolher, conforme o Nordeste Hub. Estamos de olho 👀
Castanhas
Polícia que mata negros
Infelizmente, para além da pandemia, a violência institucionalizada não dá trégua. 86% das mortes em intervenções policiais em Alagoas são de pessoas negras. A constatação é da Mídia Caeté, alagoana, que analisou 799 mortes causadas por intervenções policiais no estado desde 2012.
Valei-me, meu padim Ciço!
Aproveitando que as nossas “Castanhas” são espaços onde podemos fugir um pouco da temática, queremos te dizer pra ouvir a história do padre nascido em Juazeiro do Norte (CE), que tem a devoção de milhares de fiéis, no áudio-documentário do Budejo Podcast. Vai ao ar no próximo dia 24 e já estamos com o dedo no play!
E por falar em podcast…
A gente também amou um podcast educativo chamado Calumbi. Os episódios ajudam professores e alunos a conhecerem a história da região de Piemonte Norte do Itapicuru, na Bahia, que é formada por nove municípios.
Projeto estende olhar pelo estado
No Agreste de Pernambuco, o município de Santa Cruz do Capibaribe registrou um número altíssimo de casos de Covid-19, “mas não se tinha notícias do que estava acontecendo por lá”, lembra a jornalista Fabiana Moraes. Ela é professora do campus Agreste da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e, junto com mais três professores e vários estudantes, toca o OVA - Observatório da Vida Agreste, um laboratório que abarca projetos de extensão.
Na pandemia, os estudantes do OVA produziram reportagens especiais sobre educação e outros impactos do coronavírus em vários municípios do interior de Pernambuco. A gente separou dois aqui e aqui.
Também fizeram perfis de candidatas nas eleições do ano passado. Alguns textos do OVA foram publicados em parceria com o coletivo de jornalismo independente Marco Zero Conteúdo, baseado no Recife (PE).
“Os impactos da pandemia foram diferentes da capital. Nos municípios do interior, o transporte funciona de forma diferente, existem as feiras de rua, que fecharam", analisa Fabiana, acrescentando que as pessoas também se informam de forma diferente fora da capital: "muito por blogs, às vezes ligados a partidos ou grupos específicos. O OVA, com uma cobertura mais livre, aos poucos está conseguindo chegar nessas populações através das redes sociais.”
Ficamos muito contentes em oferecer aqui na Cajueira projetos como esses que propõem novas conexões com o público e novos frutos. Na próxima curadoria vamos aprofundar na colheita interiorana, pauta urgente para o jornalismo que acreditamos. Esperamos que tu estejas gostando cada vez mais dos cajus e das castanhas do Nordeste. Pra gente tem sido um respiro falar de jornalistas e produções que nos dão esperança.
Um cheiro!
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