🗨️ Quantos quadrinhos e quadrinistas do Nordeste você conhece?
Garimpamos projetos, publicações e artistas da cena atual para ampliar sua lista
E aí, tudo certinho contigo?
Percebeu que a newsletter tá diferentona? Abrimos orgulhosamente esta edição com uma versão da nossa logo no traço da jornalista-quadrinista Gabriela Güllich porque vamos falar sobre quadrinhos no Nordeste. Gabriela é vencedora do Prêmio HQMIX 2020 e a gente ainda vai voltar ao trabalho dela aqui. Antes, conta pra gente: quantos quadrinhos e quadrinistas do Nordeste você conhece?
Talvez você já curta e até siga alguns no Instagram sem saber de onde são. O Nordeste sempre teve muita representatividade no cenário das artes gráficas nacionais, dentro e fora do recorte do jornalismo. E tem uma cena atual muito forte que desponta aproveitando a visibilidade da internet. É uma turma que marca território tentando equilibrar a balança do mercado nacional, ainda muito inclinada para o Sudeste em termos de eventos e oportunidades.
Para instigar você a consumir mais narrativas gráficas feitas a partir da nossa região, além de links com reportagens em quadrinhos, HQs, tirinhas e outros projetos, entrevistamos artistas que fazem um sucesso danado nas redes sociais, como o paraibano Paulo Moreira (@paulomoreirap) e a potiguar Luiza de Souza (@ilustralu). Também ouvimos editores das revistas especializadas Plaf e Ragu, para entender melhor o cenário e garimpar mais indicações.
Já deu pra perceber como a curadoria tá recheada, né? Fazemos cada edição com carinho e esmero porque acreditamos na importância de combater estereótipos nordestinos na mídia e afirmar toda a diversidade da nossa região. Ajuda a gente a continuar esse trabalho apoiando a campanha de financiamento e/ou fazendo um PIX para cajueira.ne@gmail.com 🧡
Bora mergulhar no universo dos quadrinhos nordestinos? Sirva-se!
“Não é quadrinho regional”
As tirinhas de Paulo Moreira alcançam milhares de pessoas na internet. Somente no Instagram, ele tem mais de 300 mil seguidores. “É bem difícil o cara nascido e criado aqui em João Pessoa (PB), na minha época, pensar que podia ganhar dinheiro com quadrinhos”, diz. Quando era mais jovem, ele só conhecia duas pessoas que trabalhavam com quadrinhos na Paraíba - Shiko e Mike Deodato. “Achava que tinha que ir pra São Paulo, mas isso era minha cabeça de boy. No momento em que comecei a produzir, estudar, vi que dava pra fazer ‘os corres’ daqui mesmo, usando a internet a nosso favor, como se fosse uma enorme bancada pra você expor as coisas.”
Os desenhos de Paulo retratam conversas cotidianas, fazem críticas com humor e com sotaque paraibano. Para ele, essa ‘identidade nordestina’ é algo natural. "Não é quadrinho regional. É só quadrinho mesmo”, comenta. Ele já publicou quatro livros e, na pandemia, ajuda a combater a desinformação em uma iniciativa da agência de checagem Aos Fatos, sediada no Rio de Janeiro.
Para além do imaginário e das fronteiras
Editor da revista Plaf, o jornalista pernambucano Paulo Floro considera que “o Nordeste vive hoje uma fase prolífica na produção de quadrinhos”. Ele destaca que artistas locais abordam assuntos socialmente relevantes, como aborto e exclusão social, "mas também ligados ao imaginário do Nordeste, como a nossa relação com o Rio São Francisco e a história das cidades”.
O Velho Chico e as histórias do Sertão inspiram trabalhos como o livro-reportagem “São Francisco”, que une quadrinhos de Gabriela Güllich – jornalista-quadrinista mato-grossense radicada na Paraíba, autora da ilustração que abre essa edição – e do fotojornalista João Velozo. Eles percorreram mais de mil quilômetros nos eixos da transposição do rio para o projeto, vencedor do troféu HQ Mix em 2020.
Para Gabriela, ver quadrinistas conquistando um público gigantesco, como Paulo Moreira e Luiza de Souza, “sem precisar cortar vocabulário” é um grande feito. “O Brasil é gigante. Se alguma gíria não faz sentido, ótimo! Mais coisa pra aprender sobre o próprio país”, comenta.
E algumas histórias são universais, independente do local de onde são narradas. A HQ ficcional “Arlindo” é prova disso. “Pessoas de todos os lugares podem se identificar com a existência de um menino de uma cidade do interior nordestino, LGBTQIA+, mesmo sem ser qualquer uma dessas coisas”, diz a potiguar Luiza de Souza, autora da HQ.
A ideia de Arlindo veio depois do resultado das eleições de 2018. “Eu tinha começado a fazer algumas tirinhas, na intenção de mostrar como o discurso de ódio era nocivo pras crianças que ouviam”, afirmou. O trabalho foi lançado como webcomic em 2019 e a mobilização para o lançamento do livro físico se tornou a maior campanha de HQ da história do site de financiamento coletivo Catarse. Além de ler Arlindo, vale ouvir esse episódio do podcast Budejo onde Luiza fala mais sobre sobre o trabalho dela.
Existe ‘o’ quadrinho nordestino?
O artista gráfico pernambucano Christiano Mascaro lembra que “Péricles Maranhão, criador do Amigo da Onça, também era pernambucano" e que “o Nordeste sempre teve destaque na produção nacional dos quadrinhos”. Junto com outros realizadores, ele organiza a revista Ragu, uma publicação com mais de 40 artistas, que mostra a diversidade dos quadrinhos da região e também destaca outras produções brasileiras.
“Pedimos para que os trabalhos traduzissem de maneira crítica o momento que estamos vivendo. É um material que proporciona ao leitor uma pluralidade de sentimentos e percepções”, diz Mascaro.
“Não existe ‘o’ quadrinho nordestino, mas várias vertentes e várias histórias diferentes”, reforça no podcast Convida a quadrinista paraibana Thais Gualberto, autora da HQ Olga Sexóloga, colaboradora do Lady’s Comics e de jornais como a Folha de S. Paulo. Ela já organizou encontros regionais de quadrinhos com a proposta de descentralizar oportunidades. Por causa da pandemia, desde o ano passado, os grandes eventos do setor estão acontecendo em formato online. "Isso poderia ter refletido uma maior pluralidade de origens das pessoas convidadas, mas não percebi nenhuma mudança significativa nesse sentido”, criticou Thais no Twitter.
Deu pra conhecer muita gente boa até aqui, né? Queres mais? Esse universo dos quadrinhos no Nordeste é tão rico que dava pra fazer várias edições da Cajueira.
A gente se despede deixando de bandeja uma lista com outras indicações para despertar ainda mais o teu interesse. Conta também as tuas descobertas no Twitter e no Instagram da Cajueira. Um cheiro e até a próxima!
TIRA / Clarice Hoffmann / Revista Maturi / Jarbas Domingos / Raul Souza / Coletivo Políticas / Projeto Fora da Caixinha (NE + CO + NO) / Rede Nordestina de Quadrinhos NEHQ / Aureliano / Cristal Moura / Paulo Bruno / Débora Santos / Márcio Moreira / Brendda Maria / Talles Rodrigues / Zé Wellington / Luís Carlos / Bennê Oliveira/ Rogi Silva / Maria Carvalho / Gabriel Jardim / Samuel Gois
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