📰 O que 2022 reserva para o jornalismo no Nordeste?
Atuação em rede, organização coletiva e fontes de financiamento são palavras-chave.
Voltamos!!! Como foi tua virada de ano? Sentimos saudade das nossas conversas🥰
Pois 2022 já começou foi virado no mói de coentro. É covid-19, gripe, dengue, tudo misturado… valei-me! O mundo jornalístico anda agitado com tantas notícias ruins. As previsões são de que este seja um ano estratégico para a nossa profissão, sobretudo por causa das eleições, no segundo semestre.
Mas são poucas as análises de cenários e de tendências para a mídia e para o jornalismo que se preocupam em levar em consideração as realidades regionais. Ora, falar de mercado de trabalho para repórteres em Brasília é diferente de debater essa questão em outra capital, como Salvador, por exemplo.
Empregabilidade, diversidade nas redações, formação de redes, fontes de financiamento e outros assuntos urgentes devem ser discutidos também a partir das experiências dos territórios brasileiros e suas realidades. É fundamental tanto para a sustentabilidade dos veículos quanto para a produção de um jornalismo de qualidade - 2022 e seguimos reforçando isso =(
Nesta newsletter, sempre pensamos a partir do Nordeste, e por isso esta primeira edição do ano se dedica a traçar cenários para o mercado de trabalho do jornalismo na nossa região em 2022. Para falar dos desafios da profissão, convidamos Rafael Mesquita, mestre e doutorando em comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), presidente do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) e diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ).
Ele escreveu para a Cajueira e, entre outras coisas, falou sobre a importância da formação de redes, como as que ajudamos a fomentar aqui, com nossa curadoria quinzenal de iniciativas de mídias independentes nordestinas.
Fortalecer esse jornalismo e combater preconceitos midiáticos é uma boa meta de ano novo, concorda? Então, semeie a mudança que você quer ver apoiando mensalmente nossa campanha Plantio e/ou mandando um pix com um valor único para cajueira.ne@gmail.com.
Sirva-se!
Em 2022, jornalistas do Nordeste têm o desafio de organizar um novo tempo para a profissão
Por Rafael Mesquita*
Em novembro de 2021 os Sindicatos de Jornalistas Profissionais de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, São Luís (MA) e Sergipe se uniram para realizar o I Encontro Regional de Jornalistas do Nordeste. Pioneira, a atividade reuniu, em seus painéis, profissionais, pesquisadores e sindicalistas, que debateram os rumos da profissão de jornalista na região, assim como os desafios do jornalismo contemporâneo.
Entre as perspectivas apontadas pelos debates do evento, saltou aos olhos a necessidade de fortalecer iniciativas tocadas pelos próprios jornalistas, uma resposta cada vez mais concreta para a turbulência vivida pela profissão, marcada por crise do modelo de negócio do jornalismo, precarização do trabalho e aumento do desemprego. Como destacou Roseli Fígaro, professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), durante a atividade, esses “arranjos alternativos” às corporações de mídia são parte do desafio presente de organização da profissão.
O fato é que, cada vez mais, da formação profissional à representação e organização classista, é preciso pensar na redistribuição dos jornalistas nos mais diversos formatos de trabalho e nas diferentes formas de se fazer Jornalismo. Sindicatos, por exemplo, não podem levar em conta apenas a estruturação e o apoio aos trabalhadores de veículos tradicionais ou mesmo empregados de setores de comunicação de empresas e assessorias de imprensa. É preciso abrir os olhos e apontar a atuação para esse outro desafio laboral.
Em 2022, temos a oportunidade de quebrar barreiras e montar redes de ordenação e solidariedade de forma a permitir a sustentabilidade econômica e melhores condições de trabalho para os arranjos jornalísticos independentes, sobretudo aqueles formados por coletivos, cooperativas, Organizações Não Governamentais, startups tocadas por jornalistas, entre outros.
O grande desafio nesse cenário é a garantia de um modelo econômico sustentável, principalmente quando falamos de iniciativas de jornalismo independente – aqueles não ligados a grandes grupos de mídia, políticos, organizações ou empresas, que possuem maior autonomia e liberdade de expressão, como a agência Saiba Mais, no Rio Grande do Norte, ou o Bemdito, no Ceará. Ainda que apelem à contribuição de leitores, essa arrecadação quase nunca cobre os custos operacionais ou mesmo garante a valorização necessária dos jornalistas que ali ralam.
A nossa experiência, inclusive, aponta que, quanto mais independente e desvinculados das amarras do poder, as iniciativas jornalísticas se distanciam da possibilidade de financiamento. Um contrassenso, tendo em vista que, quando se fala em qualidade e impacto social, elas são vigorosas.
É nesse sentido que apontamos que a grande meta do momento é nos instrumentalizarmos com mais força para estas batalhas. O primeiro passo já citamos, mas reforçaremos: não há construção possível para esta ação que não passe pela organização coletiva, assim como pelo ingresso do conjunto da categoria em imprescindíveis lutas. A criação de redes, a capacitação para a compreensão dos novos padrões de consumo, marcados pela era digital, e a realização de campanhas de fortalecimento do jornalismo de qualidade e de interesse público são algumas dessas tarefas.
Outro campo de batalha é estar ao lado dos sindicatos e demais organizações classistas, inclusive cobrando atenção delas, quando não houver, para o papel imprescindível que têm na reivindicação de mecanismos públicos de financiamento do jornalismo nos municípios, nos estados e na União.
Também cabe ao campo sindical insurgir-se contra a concentração de recursos nos veículos tradicionais, assim como exigir que as empresas de comunicação que acessam verbas públicas ofereçam mecanismos de contrapartida social para os trabalhadores que empregam, haja vista a forte manifestação, neste setor, de trabalhos inseguros e precários, com salários tão baixos que forçam muitos a deixar a profissão.
Não podemos deixar de citar que precisamos ser parte de uma reclamação global: a pressão para que as plataformas de mídia social paguem sua parte justa e ajudem a financiar a criação de conteúdo, tendo em vista que as chamadas Big Techs, como Facebook e Google, arrecadam bilhões em lucros, mas pagam poucos impostos e não produzem notícias originais. Esse esforço, obviamente, repercute nas possibilidades de garantia de remuneração justa e promoção de condições de trabalho decentes nas mídias digitais.
No Brasil, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) defende a criação de um fundo de fomento ao jornalismo profissional, através da taxação das plataformas digitais.
Na “nova esfera pública” em que vivemos, uma coisa não mudou: a vocação social do jornalismo. A pandemia de Covid-19 mostrou, inclusive, que o trabalho dos jornalistas faz a diferença e é imprescindível, também, para a garantia da vida.
Não podemos esperar que políticos, empresários e atores externos, que têm outros interesses, defendam as políticas de mídia, das já citadas aqui à defesa do serviço público de radiodifusão e da garantia de uma transição justa dos modelos tradicionais para o digital. Cabe a nós pautar o conjunto da sociedade, inclusive os sujeitos citados, e colocar o interesse público no centro do jornalismo.
A relevância social da produção jornalística e seu impacto na vida em coletividade é o que vai definir a sobrevivência, ou não, da profissão de jornalista. O jornalismo é e, provavelmente, enquanto estivermos organizados em sociedade, continuará sendo uma demanda social e coletiva. Ao definir que não podemos abrir mão dele, é preciso resistir pela sua existência.
*Doutorando em comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), presidente do Sindjorce e diretor da FENAJ.
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